domingo, 7 de setembro de 2014

É o Silêncio, Pedro Kilkerry

É o Silêncio...

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa. 
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa... 
Mas o sangue da luz em cada folha. 

Não sei se é mesmo a minha mão que molha 
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa. 
Penso um presente, num passado. E enfolha 
A natureza tua natureza. 
Mas é um bulir das cousas... Comovido 
Pego da pena, iludo-me que traço 
A ilusão de um sentido e outro sentido. 
Tão longe vai! 
Tão longe se aveluda esse teu passo, 
Asa que o ouvido anima... 
E a câmara muda. 
E a sala muda, muda... 
Àfonamente rufa. 
A asa da rima Paira-me no ar.
Quedo-me como um Buda 
Novo, um fantasma ao som que se aproxima. 
Cresce-me a estante como quem sacuda 
Um pesadelo de papéis acima...

 E abro a janela. 
Ainda a lua esfia últimas notas trêmulas... 
O dia Tarde florescerá pela montanha. 
E ó minha amada, o sentimento é cego... 
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
 Patas de um gato e as asas de um morcego.

Pedro Kilkerry

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