Escritor: Cruz e Sousa
Música da Morte
A Música da Morte, a nebulosa,
estranha, imensa música sombria,
passa a tremer pela minh’alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa...
Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
letes sinistro e torvo da agonia,
recresce a lacinante sinfonia,
sobe, numa volúpia dolorosa...
Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
tremenda, absurda, imponderada e larga,
de pavores e trevas alucina...
E alucinando e em trevas delirando,
como um ópio letal, vertiginado,
os meus nervos, letárgico, fascina...
Cruz e Sousa
Poeticanálise
Quanto a estrutura vemos, novamente, a influência parnasiana sobre a obcessão pela forma, soneto com versos decassílabos com rimas do tipo ABBA - ABBA - CCD - EED. O uso de letras maiúsculas fora das suas condições normais em "Música da Morte". Podemos obcervar que o fascínio pela cor branca, luminosidade e coisas refletoras não se faz presente. O uso de adjetivos e verbos são importantes para o desenvolvimento do poema, pois são eles que comandam seu rumo.
A música, falada pelo poeta, cresce ao longo das estrofes, atingindo o clímax no primeiro verso da última estrofe, os dois últimos apresentam uma descida de tom que concretiza a morte falada no poema, atingindo o "ópio letal" que provoca vertigens e paralisa os nervos. E para expressar tudo isso ele explora a musicalidade do seu poema usando de uma sucessão de fonemas ( os representados pelo fonema |s| e pelas vogais nasais) e a rpetição de palavras.
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