Ismália
(Transcrição para prosa – Adaptado)
Amaldiçoada a ser mais uma princesa qualquer, vitimada por
mais um rei falido em busca de um casamento que fosse, com um príncipe
qualquer... Aliás, o monarca qualquer teria que ter dinheiro e poder
suficientes para salvar seu reino da falência
-Maldita Rapunzel!
Ismália praguejou para o pequeno e falso lago, que rodeava sua
torre já fagocitada pelo tempo, presenteando-a com a presença dos únicos seres
vivos que visitavam-na e refletindo a nobre imagem lunar.
Ah, a lua! Companhia noturna infalível da pobre princesa. Era
sob sua luz que a desafortunada ria de si mesmo, da sua condição e dançava nos
tempos livres. Na falta de um amante ela usava os dois galantes em seu alcance,
a lua e, o seu não menos majestoso, reflexo.
Louca? Quem pode julgá-la por tentar ser feliz? Por achar
amantes fiéis? Por viver seus devaneios?
O que chamamos de loucura é só mais uma das faces da
felicidade que se mostra, ironicamente, livre e bem-sucedida no mórbido
cativeiro de Ismália.
Irresistível, encantadora, hipnotizante. Essa era a lua de
Ismália, roubada, outrora, por nossa Naiá. Não importava a nossa princesa que
os miseráveis príncipes imperfeitos não a procurassem. Ela já tinha e já vivia
sua paixão utópica, duplicada pelo lago, porém Ismália queria mais.
Tinha explorado todas as opções possíveis, mas como iria
alcançar a lua? Se Ícaro tinha sido capaz de sacrificar-se para chegar ao seu
ídolo, ela também o faria. Então sentou-se na janela como milhares de outras
vezes e cantou sua alma para a lua, contou segredos e desejos, além disso
recitou todos os seus almejos de ser resgatada pelo seus amores.
Pobre daqueles que imaginam Eros como cupido... A expressão “O
amor está no ar” sofreu por traduções indevidas. “O amor é o ar”. E este Ar,
capaz de cruzar pequenos infinitos, presenteou a sonhadora princesa com asas.
Ismália alçou vôo. Até a Lua se encantou com a tal, mas o Ar
queria, como bom deus do amor e um fã por finais perfeitos, um final perfeito
para esse trio de desventurados.
De Ismália, o reflexo recebeu o corpo.
De Ismália, a lua recebeu a alma.
Cícero Vítor da S.
Justino
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